Revista Isto É Dinheiro
Uma brincadeira que corre entre analistas da indústria automobilística diz que, nos últimos anos, as montadoras americanas produziram mais notícias ruins do que propriamente automóveis. Na semana passada, a anedota deixou de fazer sentido. Segunda maior montadora dos Estados Unidos e quarta do mundo, a Ford apresentou indicadores surpreendentes.
No terceiro trimestre do ano, a empresa lucrou US$ 357 milhões, o primeiro desempenho positivo nas operações americanas – que respondem por 42% do resultado global – desde 2005. No mundo, a sobra financeira de US$ 997 milhões significou o primeiro resultado no azul desde o início de 2008. “Estamos a caminho da lucratividade sólida”, disse Alan Mullaly, presidente mundial da Ford.
“A Ford fez muito bem a lição de casa”, afirma Rubens Affonso Nogueira, consultor do mercado automotivo. “Foi a última a entrar em crise e a primeira a sair.” Executivo conhecido pelo seu estilo enérgico, Mullaly desenhou a estratégia que levou a empresa a obter sua melhor performance em muito tempo. Em primeiro lugar, Mullaly decidiu que a montadora deveria encolher de tamanho.
As marcas Jaguar e Land Rover, ricas em prestígio e pobres em resultados, foram vendidas no ano passado para a indiana Tata Motors, operação que ajudou a inflar o caixa e diminuir o peso da companhia. O processo de fragmentação da Ford, em nome do equilíbrio financeiro, continua em curso. Há duas semanas, a companhia confirmou que está em negociação com a chinesa Geely para vender a marca de automóveis Volvo.
Outra iniciativa de Mullaly foi colocar em curso um processo de ajuste de custos operacionais em todas as fábricas, o que resultou na economia de US$ 1 bilhão nos últimos 12 meses. Mullaly festejou o fato de sair do vermelho sem receber um tostão do governo americano, ao contrário do que fizeram GM e Chrysler. Ainda é cedo para festejar o fim da crise na indústria automobilística americana.
Com o fim do incentivo do governo para a troca de carros usados por novos, que já derrubou as vendas em quase 8% em outubro, analistas preveem um novo recuo do setor – e o balanço positivo da Ford reflete a realidade de um mercado que já ficou para trás. Mesmo assim, o clima é de recuperação. A exemplo da Ford, a GM vive um momento promissor.
Segundo prognósticos, no último trimestre sua produção no mercado americano deve chegar a 620 mil veículos, um aumento de 17% contra igual período anterior. A reação da companhia até desencorajou a matriz a vender a marca Opel, considerada fundamental para a sobrevivência da montadora. “Nossa situação financeira melhorou nos Estados Unidos e no mundo”, afirmou o presidente da GM Mercosul, Jaime Ardila.
Nem todos, porém, têm motivos para comemorar. A Chrysler segue ladeira abaixo. A companhia registrou em outubro queda de 30% nas vendas em relação ao mesmo período de 2008, depois de registrar retrocesso de 42% em setembro. As incertezas quanto ao futuro da companhia têm desmotivado os consumidores a comprar carros da marca. Nem o socorro de mais de US$ 15 bilhões de Barack Obama parece garantir tempos melhores para a companhia.
“Os investimentos estão garantidos”
A Ford América do Sul nem parece parte de uma companhia que patinou durante quatro anos. Sob o comando de Marcos de Oliveira, a subsidiária não sabe o que é prejuízo há 23 trimestres consecutivos. Entre janeiro e outubro, as vendas da marca no Brasil cresceram 12,6%, contra 6% da média do mercado. Em entrevista à DINHEIRO, o executivo detalhou as estratégias que fizeram da filial sul-americana uma exceção dentro do grupo.
Dinheiro - Por que a Ford América do Sul cresceu, enquanto a companhia encolhia em todo o mundo?
Marcos de Oliveira - Resultado de uma combinação de fatores. Primeiro, ajustamos a nossa capacidade de produção à demanda do mercado. Não havia produção a mais nem a menos. Segundo, lançamos no momento certos produtos que eram, digamos, desejados pelos brasileiros. Terceiro, fortalecemos a marca na mente dos consumidores. Por isso, enquanto as vendas no País cresceram 6% neste ano, crescemos mais de 12,6%.
Dinheiro - Quais foram as estratégias da Ford para sair da recessão mais cedo que as concorrentes?
Oliveira - A companhia fez em 2006 um processo global de recuperação. Os ajustes internos, com a melhoria do cenário mundial, começam agora a surtir resultados. Acredito que o período mais difícil da crise passou, embora a indústria americana esteja ainda em patamar muito mais baixo. Neste ano, foram produzidos lá 10,5 milhões de unidades. Há três anos, eram 17 milhões.
Dinheiro - Para se reestruturar, a Ford tem se desfeito de marcas. Por quê?
Oliveira - Dentro do plano estratégico, ficou decidido que a companhia passaria a focar a marca principal do grupo, a Ford. Por isso, vendeu a Jaguar, a Land Rover e negocia a Volvo. Focar os recursos em um menor número de marcas tem dado resultado. Com tudo isso, os investimentos estão garantidos.
Fonte: Revista Isto É Dinheiro | www.terra.com.br
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