Valor Econômico
A Ford Motor Co. resistiu melhor à prolongada crise do setor automobilístico dos Estados Unidos do que a maioria dos concorrentes. Agora alguns analistas acham que a empresa conseguiu deixar a crise para trás e pode atingir o ponto de equilíbrio em suas principais operações, na América do Norte, ou até divulgar lucro geral no resultado do terceiro trimestre, que sai no dia 2.
No âmago do sucesso da Ford esteve sua capacidade de minimizar os declínios nas vendas ao mesmo tempo em que tirou proveito da fraqueza dos rivais e conquistou fatia de mercado.
De acordo com a CNW Research, a Ford superou a concorrência ao ganhar mais de cinco pontos porcentuais de participação de mercado no varejo enquanto suas rivais domésticas General Motors Co. e Chrysler Group LLC perderam terreno.
“O caso da Ford é que eles tiraram proveito do fato de serem a única marca doméstica a não pegar dinheiro do governo e a não pedir concordata”, diz Efraim Levy, um analista da Standard and Poor´s para o setor automobilístico. Mas esses benefícios desaparecerão em 2010, quando os concorrentes mais fracos se distanciarão das recuperações judiciais e começarão a lançar alguns produtos novos.
Na semana passada, vários analistas de Wall Street disseram ainda esperar que a montadora americana registre um prejuízo líquido, mas expressaram otimismo de que as operações norte-americanas da empresa possam ter chegado ao ponto de equilíbrio, o que seria um feito significativo. Um analista, Himanshu Patel, do J.P. Morgan, está até mesmo prevendo um lucro trimestral.
“Obviamente, estou muito contente com nosso progresso em todo o mundo e nossa participação de mercado está subindo em todos os mercados importantes”, disse o presidente do conselho da Ford, Bill Ford, a repórteres na semana passada. “E nossos produtos estão sendo bem recebidos.” Ele se negou a falar sobre os resultados que serão divulgados, citando o período de silêncio antes do anúncio.
Por ora, a Ford continua a se beneficiar de tendências de preço para carros zero e usados que devem melhorar os resultados para a Ford Motor Credit, financeira sobre a qual tem controle integral. O fortalecimento do mercado de usados pode ser positivo para a Ford quando a montadora tenta reverter grandes prejuízos contabilizados em 2008 por causa das perdas antecipadas do declínio de valor de seus veículos arrendados.
Outro sinal positivo pode ser visto no valor futuro dos veículos Ford montados e vendidos hoje. Num relatório que deve ser divulgado em breve pelo guia de carros “Kelly Blue Book”, dois veículos Ford vão aparecer na lista dos carros modelo 2010 que se acredita que manterão o maior valor em relação a seus preços de varejo originais depois de cinco anos de uso, segundo uma pessoa a par da questão. No ano passado, nenhum carro da Ford entrou na lista dos modelos 2009. A Ford também deve ter um bom desempenho na pesquisa anual de confiabilidade da publicação “Consumer Reports”, que sai quarta-feira.
No segundo trimestre, a montadora registrou um lucro de US$ 2,3 bilhões, embora decorrido basicamente de ganhos que contabilizou como parte de esforços para reestruturar sua dívida durante o período. Excluindo esses ganhos, a Ford teria anunciado um prejuízo de US$ 424 milhões, que se comparava com US$ 1,03 bilhão um ano antes e ainda era bem inferior ao esperado pelos analistas de Wall Street. A empresa perdeu mais de US$ 30 bilhões desde 2006.
Os melhores resultados ajudaram a construir uma imagem do diretor-presidente Alan Mulally como sólido líder para recuperações. Mas a empresa que ele comanda ainda tem dívidas enormes, depois que tomou US$ 23,5 bilhões emprestados em 2006 para financiar sua reestruturação.
Muitos em Wall Street estão esperando para ver como a Ford vai reduzir seu endividamento.
O otimismo em relação aos resultados ocorre num momento delicado para a Ford. A montadora conseguiu recentemente concessões adicionais da liderança do sindicato trabalhista United Auto Workers, que incluem uma redução nas regras de trabalho e um compromisso de não haver greve. Mas o novo acordo – a segunda emenda a seu acordo trabalhista este ano – ainda precisa ser aprovado pelos membros do sindicato.
Apesar do melhor balanço patrimonial, a Ford não revisou sua projeção de lucratividade, afirmando que precisará esperar até 2011 para atingir o ponto de equilíbrio ou ter lucro. Uma pessoa a par da questão disse que, mesmo se os sinais encorajadores continuarem a surgir, a Ford pode continuar conservadora quanto à possibilidade de retornar ao lucro sustentável.
Fonte: Valor Econômico | www.valoronline.com.br
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